Ter cabelos coloridos com tons não convencionais como azul, rosa, roxo, verde ou laranja pode fazer parte dos sonhos de muitas mulheres, mas às vezes as restrições "estratégicas" podem adiar a vontade de desfilar com madeixas vibrantes por aí. A dificuldade de encontrar tintas do tão sonhado tom, a impossibilidade de manter a cor nos fios por muito tempo e ainda os cuidados posteriores à coloração são alguns dos obstáculos.
Base clara é imprescindível
A maioria dos tons de tinta "fantasia" exige uma base clara para que a coloração fique do tom desejado. Apenas em tons super escuros, como azul petróleo, verde musgo ou roxo puxado para o vinho, ou quando se deseja apenas alguns reflexos sob o sol o cabelo poderá ser colorido sem uma prévia despigmentação ou descoloração.
Vale lembrar que a descoloração é mais indicada para cabelos virgens , enquanto a decapagem funciona apenas em cabelos previamente tingidos . Se o cabelo já foi tingido ou é muito escuro, é possível que a descoloração e decapagem deixem os fios amarelados ou alaranjados. Para tons frios como azul, verde ou violeta, será preciso que as madeixas estejam platinadas e com fundo mais puxado para o cinza que para o amarelo.
Descoloração gradual e mistura de químicas
A designer Naiara Dambroso atualmente usa fios loiros, mas já mostrou madeixas tingidas de vermelho alaranjado, violeta e roxo com uma mecha vermelha. Ela conta que é preciso ter paciência para aderir aos tons "fantasia". "Meu tom natural é loiro, mas eu tingia o cabelo de preto antes de resolver mudar para o vermelho vibrante. Fui ao salão e primeiro fiz luzes para ir 'abrindo' o tom. Depois, comecei a fazer raízes vermelho acobreado, com tintura de farmácia mesmo, em casa. Depois de uns quatro meses, quando a raiz já estava bem crescida e os fios descoloridos em um tom amarelo alaranjado, pintei de vermelho 'fantasia'. Como o tom é quente, não ficou muito manchado por não precisar de uma base muito clara para ficar bom", lembrou.
Se o processo é complicado para fios lisos, imagine o trabalho que a doutoranda em engenharia Fernanda Wanderley tem para relaxar as madeixas, descolorir de três em três meses e ainda tingi-las de rosa. As diferenças no tratamento começam desde a escolha da tinta: "eu usava uma tinta rosa que tinha mais pigmento vermelho que a que uso atualmente. Como faço relaxamento, não posso descolorir tão claro quanto gostaria, então a tinta atual, mais fria, fica com um resultado final mais rosa".
Fernanda contou que vai ao salão de três em três meses para descolorir todo o cabelo; das raízes crescidas de cabelo virgem, até o comprimento dos fios já tingidos de rosa. O resultado são raízes com um tom de loiro amarelado e pontas rosa claro. Depois de aplicada, a tinta iguala as duas "partes" do cabelo e o resultado são mechas uniformemente rosadas.
A duração da tinta "colorida"
A maioria das fórmulas de tinta "fantasia" encontradas no mercado age de forma superficial nos fios, como uma espécie de tonalizante . Estas tintas não têm amônia e água oxigenada que, nas tintas convencionais, servem para abrir as escamas do cabelo e "revelar" a cor. É justamente por conta dessa ação mais superficial, que a fixação das tintas coloridas não costuma ser das melhores. Uma das queixas mais comuns das mulheres que tingem os cabelos de cor "fantasia" é que as cores vibrantes desbotam muito rapidamente.
O caso é parecido com o das tintas vermelhas "de farmácia" , que desbotam mais rapidamente, mas são mais difíceis de retirar dos fios. Os resíduos dos pigmentos de cores quentes como vermelho, laranja e rosa aderem aos fios e é preciso mais processos de decapagem para chegar ao tom loiro exigido por tintas mais claras.
Fernanda Wanderley retoca a coloração rosa dos cabelos a cada dois meses e Naiara Dambroso sentia necessidade de retocar todo mês, mesmo que a cor desbotasse para um tom bonito, como lembrou. A designer passou por uma fase em que teve mechas violeta na maior parte da cabeça e uma parte do cabelo em tom de vermelho vivo. O processo de retoque das duas cores não era tão difícil quando imagina-se, garantiu: "passava primeiro a tinta vermelha na mecha, fazia um rolinho, prendia com uma presilha e retocava a parte roxa normalmente".
"Quase morri de medo de ficar careca"
As donas dos cabelos coloridos alertam que a frequência dos cuidados como hidratação, reposição de nutrientes e queratina devem ser ainda mais frequentes que o cuidado normal semanal. A "culpa" é das constantes descolorações e decapagens, que retiram dos fios alguns nutrientes importantes. "Na época dos cabelos coloridos, eu cuidava bem mais que hoje em dia. Usava ampolas de tratamento, hidratava com mais frequência e usava touca térmica", aconselhou a designer.
Mariana Salim é professora de inglês, tem 30 anos e pinta os cabelos desde os 14. Seus tons favoritos são vermelho e rosa, mas ela aponta que consegue retocar raízes e obter o mesmo resultado quando vai a uma mesma cabeleireira. Ela contou que uma vez foi a outro salão e que a cabeleireira errou na descoloração e a raiz ficou com "uma tonalidade completamente diferente" do resto das madeixas. Foi preciso descolorir os fios por inteiro no dia seguinte, o que prejudicou tanto o cabelo, que causou o temido "fio elástico". "Eu puxava, ele esticava e arrebentava. Quase morri de medo de ficar careca porque não podia prender, nem pentear o cabelo sem aplicar queratina", lembrou.
"Por acidente, tingi até a resina dos dentes de roxo"
Além da hidratação e outros cuidados como a reposição de queratina, ter cabelo colorido requer atenção durante todo o dia. É comum que estas tintas "fantasia" transfiram algum pigmento para superfícies de contato frequente como fronhas, celulares, óculos e até os dentes. Quem conta é Naiara: "eu havia feito uma restauração de resina em um dente e, no mesmo dia, retoquei a coloração dos cabelos em casa. Eu devo ter respirado com a boca aberta durante o enxágue no banho, porque acidentalmente a tinta tingiu esta parte do meu dente. Foi preciso voltar à dentista para fazer um polimento e tirar a leve coloração arroxeada da resina".
Menos drástico foi o tingimento dos óculos de Fernanda Wanderley, que agora tem hastes "degradê rosa" em vez de brancas. Já Mariana Salim comentou que já aconteceu de pegar chuva na saída do salão em que havia acabado de retocar a cor dos cabelos: "as tintas fantasia e o vermelho super escorrem". A professora de inglês também aponta que a união dos cabelos coloridos com o quimono branco que usa para praticar Jiu Jitsu não é das mais funcionais: "quando treino, 'pinto' o quimono dos meus amigos. O meu também tem as extremidades manchadas de rosa por causa da tinta".
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